Sabemos que 'transição' é tanto um conceito quanto um quadro analítico comumente aplicado para descrever e compreender mudanças nos regimes políticos e a subsequente consolidação das instituições políticas democráticas. Em várias partes do mundo, entre o final dos anos 1980 e 1990, o sentido da história parecia inquestionável. A transição e o vocabulário conceitual que a acompanhava delineavam mais de um diagnóstico: regimes mais ou menos autoritários estavam em transição e, seguindo o curso da história, transformavam-se em democracias.
Hoje, vivemos, sem dúvidas, em meio a outros movimentos. Nossas trajetórias parecem ser diferentes e seus desafios nos impulsionam no ritmo dos sentidos da urgência. A fome é urgente; o genocídio perpetrado contra as populações indígenas é urgente; a destruição do meio ambiente é urgente; o combate ao racismo é urgente; as lutas contra as violências sexuais e de gênero são urgentes; as lutas contra as injustiças e desigualdades sociais são urgentes. A lista é extensa e, com esta Oficina que inaugurou o nosso calendário de Oficinas de Formação, a nossa pretensão foi a de acompanhar os ritmos de diferentes apelos, cada um desses sendo uma urgência, para propormos uma reflexão sobre os desafios das lutas atuais na imaginação e transformação social do Brasil.
Através de uma pergunta que é também um passo para novos caminhos, esta oficina emergiu da necessidade de nos dedicarmos ao seguinte desafio: como transitamos de uma sociedade - jamais pacificada - marcada por diversas desigualdades e por ações e posições políticas e sociais reacionárias, para a consolidação de um governo e instituições políticas capazes de concretizar as promessas normativas e práticas de uma democracia?
Flávia Rios e Uvanderson Vitor da Silva, mediador da discussão, debateram as transformações sociais, as lutas políticas, a ideia de transição e o tipo de imaginação política que essas possibilitam.
Flávia Rios
Doutorou-se na Universidade de São Paulo (USP, 2014), na qual obteve os títulos de bacharelado(2005) e de licenciatura em Ciências Sociais(2006) e mestre em Sociologia(2009). Durante o estágio doutoral, foi Visiting Student Researcher Collaborator em Princeton University, com bolsa Sanduíche da FAPESP (2013). Atualmente, é Diretora do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF/UFF) e também professora adjunta da Universidade Federal Fluminense(UFF). Integra o Comitê Científico do AFRO/CEBRAP e do Projeto "As responsabilidades de empresas por violações de direitos durante a Ditadura" (CAAF/Unifesp). Coordena o projeto "Gestão municipal da igualdade racial e políticas inclusivas de educação e trabalho no município de Niterói: estudos e ações para sua implementação" e o projeto " Origens e destinos: uma avaliação da política de cotas universitárias e seus efeitos no mercado de trabalho". Integra ainda o grupo de trabalho da Advocacia Geral da União (AGU). Flávia Rios é autora de mais de uma contribuição para os estudos sobre as teorias interseccionais, as relações raciais e de gênero, Ditadura Militar e democracia, feminismo negros e políticas de ações afirmativas no ensino superior. Destacamos o livro organizado, em parceria com a professora Márcia Lima, "Por um Feminismo Afro-Latino-Americano", e o livro "Raça e Estado", publicado em parceria com o professor Luiz Augusto Campos.
Uvanderson Vitor da Silva
Possui graduação em Ciências Sociais e Mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). É doutor em Sociologia Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Atuou como consultor em diversas organizações sociais e no poder público. Suas áreas de interesse e atuação são sociologia política, cidadania, desigualdades e relações raciais. Atualmente, é o coordenador do Programa Democracia e Cidadania Ativa na Fundação Tide Setúbal.
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